Alguns Benefícios da Soja Revelados em 2009
Dr George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
Janeiro de 2010
www.nutriveg.com.br
Dentre os muitos rituais da comunidade científica, a publicação de estudos em periódicos científicos é algo que tem grande valor. Quando se trata de um tema rodeado de preconceitos, como é o caso da nutrição vegetariana, poder respaldar a argumentação em publicações desse tipo tem valor ainda maior e isso é algo do que podemos nos utilizar, já que são muitos os artigos publicados anualmente que corroboram a viabilidade e as vantagens de adotar uma dieta baseada em alimentos vegetais.
Lembro-me que quando escolhi o tema do meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de nutrição, A Adequação Nutricional de uma Dieta Vegetariana, a orientadora vetou o tema alegando “não haver referências bibliográficas suficientes sobre o tema”. Eu acabei fazendo a monografia sobre outro tema qualquer e desenvolvi o mesmo título como trabalho de conclusão de um dos estágios. Tão completo e cientificamente embasado ele ficou, que a coordenadora do estágio decidiu que eu o apresentaria juntamente com os outros trabalhos de conclusão de curso. Não tive a oportunidade de conversar com a orientadora sobre o fato, mas espero que ela tenha com isso podido mudar o seu conceito sobre o embasamento científico da nutrição vegetariana.
Isso foi há alguns anos (na verdade, mais de uma década) e apesar de o número de publicações aumentar anualmente, ainda existe na comunidade científica a noção de que a nutrição vegetariana seja desprovida de base científica. É por esse motivo que eu sempre gosto de noticiar na Revista dos Vegetarianos algumas dessas publicações. Vejamos a seguir algumas das novidades publicadas no último semestre de 2009, dessa vez focando em alguns estudos que apontaram para o benefício do consumo da soja e seus derivados.
Haja vista que o consumo da soja é assunto controverso, vale um rápido esclarecimento sobre o tema das pesquisas que alegam que a soja não deveria ser consumida por múltiplos fatores. A cada mês são publicados cerca de 40 artigos científicos sobre a soja. As bases de dados de publicações científicas reúnem mais de 7 mil artigos com a palavra “soja” no título do artigo. Diante disso e com a seleção adequada dos artigos de interesse, fica fácil tanto recomendar quanto condenar o consumo da soja, e fazê-lo baseando os argumentos em pesquisas científicas.
No meu entender, as pesquisas em humanos indicam que um consumo moderado da leguminosa e seus derivados seja algo perfeitamente seguro e recomendável. Entenda por consumo moderado até três porções diárias, onde uma porção equivale a 100 gramas de tofu, 1 xícara de “leite” de soja ou meia xícara do feijão de soja cozido ou da proteína vegetal texturizada (PVT ou PTS) já hidratada, sendo que os alimentos estão listados aqui em ordem de preferência (o consumo do tofu é mais recomendado do que o consumo da PVT).
Isso posto, vamos a alguns dos estudos científicos publicados recentemente que mostram os benefícios do consumo da soja para a saúde humana.
Um estudo que avaliou mais de 63 mil pessoas vivendo em Singapura (1) demonstrou que as mulheres chinesas que consumiam a maior quantidade de soja (tofu, proteína de soja e isoflavonas) tiveram um risco de fraturas do quadril de 21% a 36% menor quando comparadas ao quartil inferior (25% das mulheres que consumiam menos soja). Para exemplificar o que consumiam as mulheres nos três quartis mais altos (as que estavam mais protegidas), considere um quarto de xícara de tofu (cerca de 60 gramas), o que é uma porção pequena. É importante notar que a fratura de quadril é um dos indicadores para a osteoporose. É interessante também especular que essas mulheres que estão consumindo menos soja provavelmente estão obtendo as suas proteínas de fontes de origem animal.
Já um estudo com mulheres chinesas vivendo em Shangai apontou que aquelas mulheres com diagnóstico de câncer de mama que consumiam mais soja tiveram um menor índice de mortalidade e de recorrência da doença. Os benefícios foram medidos com o consumo de até 11 gramas de proteína de soja por dia.
Um estudo norte-americano envolvendo pacientes com diabetes tipo 2 (3) comparou os efeitos do consumo da proteína da soja e da proteína do leite. Cada um dos participantes passou 57 dias consumindo 40 gramas diárias da proteína vegetal seguidos por 57 dias consumindo a proteína de origem animal. Durante a fase em que consumiram a proteína vegetal, os pacientes reduziram os níveis do colesterol LDL (colesterol “ruim”) significativamente mais do que durante a fase de consumo da proteína do leite. A taxa de LDL para HDL também foi reduzida com maior significância quando do consumo da proteína vegetal. O colesterol elevado é um fator de risco para as doenças cardíacas e os diabéticos sofrem de doenças do coração duas vezes mais do que outras pessoas.
Para quem possa estar interessado em ver na íntegra os estudos citados, seguem abaixo as referências das publicações. Na próxima edição, farei uma revisão especial sobre publicações que apontam para os benefícios de uma dieta vegetariana em relação ao diabetes.
(1) Koh WP ET al. Gender-specific associations between soy and risk of hip fracture in the Singapore Chinese Health Study. Am J Epidemiol. 01 outubro 2009;170(7):901-9. (2) Shu XO et al. Soy food intake and breast cancer survival. JAMA. 09 dezembro 2009;302(22):2437-43. (3) Pipe EA et al. Soy protein reduces serum LDL cholesterol and the LDL cholesterol:HDL cholesterol and apolipprotein B:apolipprotein A-1 ratios in adults with type 2 diabetes. J Nutr. Setembro 2009;139:1700-1706.
Dr George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
Janeiro de 2010
www.nutriveg.com.br
Dentre os muitos rituais da comunidade científica, a publicação de estudos em periódicos científicos é algo que tem grande valor. Quando se trata de um tema rodeado de preconceitos, como é o caso da nutrição vegetariana, poder respaldar a argumentação em publicações desse tipo tem valor ainda maior e isso é algo do que podemos nos utilizar, já que são muitos os artigos publicados anualmente que corroboram a viabilidade e as vantagens de adotar uma dieta baseada em alimentos vegetais.
Lembro-me que quando escolhi o tema do meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de nutrição, A Adequação Nutricional de uma Dieta Vegetariana, a orientadora vetou o tema alegando “não haver referências bibliográficas suficientes sobre o tema”. Eu acabei fazendo a monografia sobre outro tema qualquer e desenvolvi o mesmo título como trabalho de conclusão de um dos estágios. Tão completo e cientificamente embasado ele ficou, que a coordenadora do estágio decidiu que eu o apresentaria juntamente com os outros trabalhos de conclusão de curso. Não tive a oportunidade de conversar com a orientadora sobre o fato, mas espero que ela tenha com isso podido mudar o seu conceito sobre o embasamento científico da nutrição vegetariana.
Isso foi há alguns anos (na verdade, mais de uma década) e apesar de o número de publicações aumentar anualmente, ainda existe na comunidade científica a noção de que a nutrição vegetariana seja desprovida de base científica. É por esse motivo que eu sempre gosto de noticiar na Revista dos Vegetarianos algumas dessas publicações. Vejamos a seguir algumas das novidades publicadas no último semestre de 2009, dessa vez focando em alguns estudos que apontaram para o benefício do consumo da soja e seus derivados.
Haja vista que o consumo da soja é assunto controverso, vale um rápido esclarecimento sobre o tema das pesquisas que alegam que a soja não deveria ser consumida por múltiplos fatores. A cada mês são publicados cerca de 40 artigos científicos sobre a soja. As bases de dados de publicações científicas reúnem mais de 7 mil artigos com a palavra “soja” no título do artigo. Diante disso e com a seleção adequada dos artigos de interesse, fica fácil tanto recomendar quanto condenar o consumo da soja, e fazê-lo baseando os argumentos em pesquisas científicas.
No meu entender, as pesquisas em humanos indicam que um consumo moderado da leguminosa e seus derivados seja algo perfeitamente seguro e recomendável. Entenda por consumo moderado até três porções diárias, onde uma porção equivale a 100 gramas de tofu, 1 xícara de “leite” de soja ou meia xícara do feijão de soja cozido ou da proteína vegetal texturizada (PVT ou PTS) já hidratada, sendo que os alimentos estão listados aqui em ordem de preferência (o consumo do tofu é mais recomendado do que o consumo da PVT).
Isso posto, vamos a alguns dos estudos científicos publicados recentemente que mostram os benefícios do consumo da soja para a saúde humana.
Um estudo que avaliou mais de 63 mil pessoas vivendo em Singapura (1) demonstrou que as mulheres chinesas que consumiam a maior quantidade de soja (tofu, proteína de soja e isoflavonas) tiveram um risco de fraturas do quadril de 21% a 36% menor quando comparadas ao quartil inferior (25% das mulheres que consumiam menos soja). Para exemplificar o que consumiam as mulheres nos três quartis mais altos (as que estavam mais protegidas), considere um quarto de xícara de tofu (cerca de 60 gramas), o que é uma porção pequena. É importante notar que a fratura de quadril é um dos indicadores para a osteoporose. É interessante também especular que essas mulheres que estão consumindo menos soja provavelmente estão obtendo as suas proteínas de fontes de origem animal.
Já um estudo com mulheres chinesas vivendo em Shangai apontou que aquelas mulheres com diagnóstico de câncer de mama que consumiam mais soja tiveram um menor índice de mortalidade e de recorrência da doença. Os benefícios foram medidos com o consumo de até 11 gramas de proteína de soja por dia.
Um estudo norte-americano envolvendo pacientes com diabetes tipo 2 (3) comparou os efeitos do consumo da proteína da soja e da proteína do leite. Cada um dos participantes passou 57 dias consumindo 40 gramas diárias da proteína vegetal seguidos por 57 dias consumindo a proteína de origem animal. Durante a fase em que consumiram a proteína vegetal, os pacientes reduziram os níveis do colesterol LDL (colesterol “ruim”) significativamente mais do que durante a fase de consumo da proteína do leite. A taxa de LDL para HDL também foi reduzida com maior significância quando do consumo da proteína vegetal. O colesterol elevado é um fator de risco para as doenças cardíacas e os diabéticos sofrem de doenças do coração duas vezes mais do que outras pessoas.
Para quem possa estar interessado em ver na íntegra os estudos citados, seguem abaixo as referências das publicações. Na próxima edição, farei uma revisão especial sobre publicações que apontam para os benefícios de uma dieta vegetariana em relação ao diabetes.
(1) Koh WP ET al. Gender-specific associations between soy and risk of hip fracture in the Singapore Chinese Health Study. Am J Epidemiol. 01 outubro 2009;170(7):901-9. (2) Shu XO et al. Soy food intake and breast cancer survival. JAMA. 09 dezembro 2009;302(22):2437-43. (3) Pipe EA et al. Soy protein reduces serum LDL cholesterol and the LDL cholesterol:HDL cholesterol and apolipprotein B:apolipprotein A-1 ratios in adults with type 2 diabetes. J Nutr. Setembro 2009;139:1700-1706.