Bastidores da aprovação do Projeto de Lei que proíbe o uso de animais em circos pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados
George Guimarães, presidente do VEDDAS – Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade
Brasília, 03 de junho de 2009. Hoje, escrevemos mais uma importante página de um dos capítulos da defesa animal no país. Na manhã de hoje, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, o Substitutivo do Projeto de Lei 7.291/2006, que proíbe o uso de animais em circos em todo o território nacional. Refiro-me a essa vitória como apenas uma das páginas de um dos muitos capítulos porque esse PL ainda está longe de ser aprovado, pois ainda terá que passar pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, seguindo para o Senado Federal, onde passará por novas comissões. Ainda assim, a vitória de hoje na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, onde o projeto esteve tramitando por longos dois anos e meio e causando grande apreensão, é certamente um momento determinante.
Diferentes grupos e indivíduos dedicados à proteção e defesa animal trabalham com a questão dos animais em circo há mais de uma década. Alguns desses estiveram presentes no Plenário 10 da Câmara dos Deputados na manhã de hoje e muitos fizeram parte em tantos outros momentos, participando de reuniões e audiências públicas, visitando gabinetes e articulando de muitas outras formas com os parlamentares.
Hoje pudemos sentir aliviada uma tensão que se acumulava há muitos meses. Entre uma série de adiamentos de audiências públicas que por fim não se realizaram e os também seguidos adiamentos nas votações, o movimento mostrou-se por muitas vezes desestimulado diante da desarticulação causada por esses cansativos processos. Aos ativistas que se mantiveram fortes e disponíveis enquanto os colegas estavam impossibilitados, fazendo os sacrifícios que foram necessários, todos os esforços foram recompensados na manhã de hoje. Mas é importante saber que há muitos embates pela frente até que seja aprovada em definitivo no país uma legislação em favor da abolição do uso de animais em circos.
Estar em Brasília em busca da atenção dos parlamentares não é tarefa fácil. Raramente é possível ter contato com eles, ficando a comunicação restrita aos seus assessores. Alguns informam uma posição firme do parlamentar, enquanto outros informam a posição de maneira duvidosa. Muitos se mostram mal-informados ou pouco desejosos por receber a informação, enquanto outros informam simplesmente que votarão de acordo com o que for determinado pelo partido. Ou seja, a maior parte deles nos deixa inseguros sobre o seu posicionamento. Pelo que eu pude aprender na tarde de ontem em visita aos gabinetes, tudo é decidido às pressas e com muitas falhas de comunicação, o que só aumenta a possibilidade de prevalecer a desinformação, já que apenas a informação seguida de ponderação é capaz de criar um espaço de qualidade para a tomada de decisão sobre um assunto de tamanha importância.
Na tarde de ontem, a informação era a de que a negociação girava em torno de três questões: a exclusão do termo “congêneres” do texto do substitutivo (havia temor de que os rodeios pudessem ser afetados por essa lei), a extensão do prazo previsto para a destinação dos animais de três para seis anos e a exclusão da proibição dos animais domésticos (o que significaria que poderiam continuar a serem usados). Propunham os opositores que, havendo o aceite dessas três condições, a matéria seria aprovada. Aceitar a exclusão do termo “congêneres” e o aumento do prazo era consenso entre os ativistas presentes. Já com relação à exclusão dos animais domésticos, o posicionamento foi firme no sentido de não aceitar negociações com relação a isso.
Em conversa com a assessoria do relator do Substitutivo do PL na noite de ontem (horas antes da votação), o meu posicionamento pessoal foi o de que se os animais domésticos fossem excluídos da proibição, seria da minha preferência que a matéria fosse rejeitada por completo, pois preferiríamos que não houvesse uma lei caso essa fosse tão imensamente incoerente ao ponto de excluir algumas espécies animais enquanto mantinha as outras. Ora, ou o nosso argumento moral vale para todas as espécies ou ele não valerá. Idem para os nossos argumentos sanitários e de segurança, pois os riscos oferecidos à população são semelhantes independentemente da espécie, ainda mais quando se trata de uma atividade de natureza itinerante. Além dessas, também no que diz respeito à educação, que é a matéria da Comissão de Educação e Cultura, o prejuízo causado à formação de uma criança que é convidada a divertir-se com a humilhação de um chimpanzé ou o subjugo de um leão é o mesmo ainda que os sujeitos de tal tratamento sejam substituídos por um cavalo, um cachorro, ou qualquer outro animal.
Por fim, o texto apresentado para votação atendia às solicitações que se referiam à extensão do prazo e à exclusão de atividades congêneres, ficando mantido o posicionamento em relação à abolição do uso de qualquer espécie animal, excetuando-se dessa apenas os animais humanos. No entanto, durante a votação, a negociação da exclusão dos animais domésticos voltou ao debate no Plenário 10 da Câmara dos Deputados. Aqueles que se opunham ao substitutivo declararam-se dispostos a aceitar todos os outros termos do PL desde que os animais domésticos fossem excluídos da proibição. Essa parecia ser uma proposta bastante tentadora, haja vista que era pouco certa a aprovação da matéria caso o embate caminhasse para a decisão pelo voto (que é o oposto da decisão por acordo). No intuito de exercer pressão, os parlamentares em oposição ao texto alertavam aos outros deputados sobre o risco de perderem na votação caso o acordo para a exclusão dos domésticos não fosse aceito. No entanto, para a sorte dos animais de todas as espécies, os parlamentares que discursavam em favor dos animais mantiveram-se sóbrios e firmes em sua posição, a qual foi totalmente condizente com a proposta da libertação animal.
São merecedores dos nossos agradecimentos os Deputados Federais:
- Affonso Camargo (PSDB-PR), que apesar de não fazer parte da Comissão de Educação e Cultura, esteve presente na votação e em muitos outros momentos da tramitação desse PL, discursando sobre o tema sem amarras e, hoje em especial, convidando aos outros parlamentares a fazerem um exame de consciência ao decidirem pela posição que tomariam;
- Alice Portugal (PCdoB-BA), que defendeu com uma energia ímpar aos interesses dos animais e da sociedade humana quando se posicionou diante dos outros parlamentares munida de argumentos firmes e repletos de informação;
- Antônio Carlos Biffi (PT-MS), relator do Substitutivo do PL em questão, desde o início da tramitação apresentou um excelente relatório que vinha de encontro aos interesses dos animais, mantendo-se coerente com o seu arrazoado até o final das negociações;
- Maria do Rosário (PT-RS), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, pela excelente condução dos trabalhos realizados pela Comissão por ela presidida;
- Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que apesar de não fazer parte da Comissão de Educação e Cultura, esteve presente na votação e fez uso da palavra para defender os interesses dos animais em circos, tendo sido a sua presença de essencial importância para a mediação das negociações.
Cidadãos comuns não têm direito à voz durante a votação, mas podem estar presentes em silêncio (com exceção de uma manifestação aqui e ali, devidamente advertida pela presidente da Mesa). Éramos cerca de 40 ativistas contra um número semelhante de circenses. Os ativistas posicionaram-se de maneira ordenada na penúltima fila (ou a primeira disponível para o público) exibindo faixas e cartazes, que foram momentaneamente ofuscados pela pilha de abaixo-assinados que foi colocada sobre a mesa que ocupávamos. As 100.000 assinaturas, colhidas por grupos espalhados por todo o país e cujo transporte foi confiado ao VEDDAS para ser protocolado na manhã de hoje, desfilou no dia anterior pelos gabinetes dos parlamentares em 50 quilos de papel. Outras folhas, trazidas por outros grupos e indivíduos, foram agregadas a essa pilha que, sendo exibida dentro do Plenário de votação com seus 70 centímetros de altura, declarava o posicionamento de 100.000 cidadãos contrários à presença de animais em circos.
O Deputado Ricardo Tripoli foi o segundo parlamentar a fazer o uso da palavra e foi ele quem trouxe a atenção dos outros parlamentares para a platéia de defensores dos direitos animais que se colocava às suas costas. Nesse momento, ele pediu a permissão da presidente da Comissão de Educação e Cultura para que o VEDDAS entregasse à Comissão os abaixo-assinados que portava em nome de outros grupos. O pedido foi aceito, mas não sem antes fazer o convite aos circenses para fazerem o mesmo, ao que eles responderam apresentando um tímido maço de abaixo-assinados com menos de cinquenta folhas. A presidente da Mesa recebeu das minhas mãos e posicionou devidamente ao lado da Mesa as 100.000 assinaturas que me foram confiadas, dando continuidade aos trabalhos. A todos os que assinaram esse abaixo-assinado, saibam que a apresentação das suas assinaturas pode ter feito toda a diferença na decisão dos parlamentares presentes.
As falas contrárias à proibição do uso de animais em circos frequentemente usavam de argumentos que excediam o limite do não-risível, atestando aos mais esclarecidos que o que ocorre na verdade é a escassez de argumentos plausíveis. Já as posições favoráveis à proibição do uso de animais em circos foram bastante consistentes e, surpreendentemente , foram focadas na questão animal. Digo que isso foi surpreendente porque há uma série de argumentos antropocêntricos (como as questões sanitárias e de segurança) disponíveis, mas os argumentos que colocam em foco o interesse dos animais em não serem sujeitados às condições inerentes à atividade circense tiveram a preferência dos parlamentares.
Encerradas as exposições por parte dos parlamentares, houve uma breve movimentação no sentido de negociações entre eles. Das alterações propostas, a única acatada pelo relator foi a de estender para oito anos o prazo para a destinação dos animais. Em seguida, a matéria foi colocada em votação e, sem deixar que a tensão se alongasse, o texto foi rapidamente aprovado por unanimidade, o que provocou uma comemoração espontânea entre os ativistas que ocupavam o Plenário.
Muitos grupos estiveram presentes no momento da votação. Além da presença do VEDDAS de São Paulo, destaco a presença da ADI de Londres, ANIDA do Rio de Janeiro, Coletivo Madu do Distrito Federal, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, ProAnima do Distrito Federal e WSPA, que se manifestaram em voz uníssona durante os trabalhos. Apesar de sabermos não ter sido sempre assim na trajetória desse tema, é certo que a atitude positiva em efeito hoje na Câmara dos Deputados também esteve em efeito nas últimas semanas entre grupos e indivíduos que atuam pelo mesmo objetivo no que se refere à abolição do uso de animais em circos e que não puderam estar presentes na data de hoje.
Conforme disse no início, ainda temos muito a trilhar, tanto na Câmara quanto no Senado, até que possamos concluir o capítulo que se refere aos animais mantidos em circos. Nesse sentido, peço aos grupos para que se mantenham alertas e ativos em sua mobilização. Pude constatar pessoalmente que os deputados registram e respondem às manifestações feitas por meio de mensagens eletrônicas, em especial as que são feitas em tom educado. Aos que têm acesso a Brasília, a visita aos gabinetes e outras formas de contato direto com os parlamentares são de extrema importância. Àqueles que não têm acesso fácil ao Planalto Central, mas que poderiam fazer um esforço maior para criar essa possibilidade, eu recomendo fortemente que o façam. Aos que estão impossibilitados de se fazerem presentes, escrevam de maneira educada aos deputados que farão parte da Comissão de Constituição e Justiça. Desde já, todos podem escrever aos deputados que votaram na Comissão de Educação e Cultura agradecendo pelo voto favorável ao Substitutivo do PL 7.291/2006, que proíbe o uso de animais em circos em todo o território nacional.
Oportunamente, dividi o voo de ida a Brasília com a Senadora Marina Silva, de quem me aproximei contando sobre o propósito da minha viagem e seguindo com uma consulta sobre o seu posicionamento em relação à questão dos animais em circos. Com muita prudência, ela me respondeu: “acredito que tenhamos uma posição bastante semelhante”.
Há muitos caminhos que, inexoravelmente, colocarão a exploração de animais não-humanos nos capítulos mais vergonhosos da história da nossa civilização. O caminho que faz uso dos processos legislativos é um deles e por isso devemos aprender a usá-lo. Nesse caminho, onde os parlamentares são os únicos a terem voz no momento da votação, não devemos nos esquecer de que somos nós que damos voz a eles. Para aqueles de nós que escolhemos fazer uso de nossa voz em favor de outrem, ainda que esse outrem não nos tenha elegido por meio de processos eleitorais, lembremo-nos de que somos nós a ponte entre eles e aqueles que têm o poder de legislar de forma que possa ser favorável à sua libertação.
Ofereço meus agradecimentos pessoais à Ana Nira, Marina Corbucci, Renata Martins e Sônia Fonseca, cujo apoio e orientação foram preciosos para a realização do trabalho no qual eu propus me engajar por esse breve período.
Acesse www.veddas.org.br/circos/fotos.htm e veja as fotos que ilustram os acontecimentos narrados nesse texto.
George Guimarães, presidente do VEDDAS – Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade
Brasília, 03 de junho de 2009. Hoje, escrevemos mais uma importante página de um dos capítulos da defesa animal no país. Na manhã de hoje, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, o Substitutivo do Projeto de Lei 7.291/2006, que proíbe o uso de animais em circos em todo o território nacional. Refiro-me a essa vitória como apenas uma das páginas de um dos muitos capítulos porque esse PL ainda está longe de ser aprovado, pois ainda terá que passar pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, seguindo para o Senado Federal, onde passará por novas comissões. Ainda assim, a vitória de hoje na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, onde o projeto esteve tramitando por longos dois anos e meio e causando grande apreensão, é certamente um momento determinante.
Diferentes grupos e indivíduos dedicados à proteção e defesa animal trabalham com a questão dos animais em circo há mais de uma década. Alguns desses estiveram presentes no Plenário 10 da Câmara dos Deputados na manhã de hoje e muitos fizeram parte em tantos outros momentos, participando de reuniões e audiências públicas, visitando gabinetes e articulando de muitas outras formas com os parlamentares.
Hoje pudemos sentir aliviada uma tensão que se acumulava há muitos meses. Entre uma série de adiamentos de audiências públicas que por fim não se realizaram e os também seguidos adiamentos nas votações, o movimento mostrou-se por muitas vezes desestimulado diante da desarticulação causada por esses cansativos processos. Aos ativistas que se mantiveram fortes e disponíveis enquanto os colegas estavam impossibilitados, fazendo os sacrifícios que foram necessários, todos os esforços foram recompensados na manhã de hoje. Mas é importante saber que há muitos embates pela frente até que seja aprovada em definitivo no país uma legislação em favor da abolição do uso de animais em circos.
Estar em Brasília em busca da atenção dos parlamentares não é tarefa fácil. Raramente é possível ter contato com eles, ficando a comunicação restrita aos seus assessores. Alguns informam uma posição firme do parlamentar, enquanto outros informam a posição de maneira duvidosa. Muitos se mostram mal-informados ou pouco desejosos por receber a informação, enquanto outros informam simplesmente que votarão de acordo com o que for determinado pelo partido. Ou seja, a maior parte deles nos deixa inseguros sobre o seu posicionamento. Pelo que eu pude aprender na tarde de ontem em visita aos gabinetes, tudo é decidido às pressas e com muitas falhas de comunicação, o que só aumenta a possibilidade de prevalecer a desinformação, já que apenas a informação seguida de ponderação é capaz de criar um espaço de qualidade para a tomada de decisão sobre um assunto de tamanha importância.
Na tarde de ontem, a informação era a de que a negociação girava em torno de três questões: a exclusão do termo “congêneres” do texto do substitutivo (havia temor de que os rodeios pudessem ser afetados por essa lei), a extensão do prazo previsto para a destinação dos animais de três para seis anos e a exclusão da proibição dos animais domésticos (o que significaria que poderiam continuar a serem usados). Propunham os opositores que, havendo o aceite dessas três condições, a matéria seria aprovada. Aceitar a exclusão do termo “congêneres” e o aumento do prazo era consenso entre os ativistas presentes. Já com relação à exclusão dos animais domésticos, o posicionamento foi firme no sentido de não aceitar negociações com relação a isso.
Em conversa com a assessoria do relator do Substitutivo do PL na noite de ontem (horas antes da votação), o meu posicionamento pessoal foi o de que se os animais domésticos fossem excluídos da proibição, seria da minha preferência que a matéria fosse rejeitada por completo, pois preferiríamos que não houvesse uma lei caso essa fosse tão imensamente incoerente ao ponto de excluir algumas espécies animais enquanto mantinha as outras. Ora, ou o nosso argumento moral vale para todas as espécies ou ele não valerá. Idem para os nossos argumentos sanitários e de segurança, pois os riscos oferecidos à população são semelhantes independentemente da espécie, ainda mais quando se trata de uma atividade de natureza itinerante. Além dessas, também no que diz respeito à educação, que é a matéria da Comissão de Educação e Cultura, o prejuízo causado à formação de uma criança que é convidada a divertir-se com a humilhação de um chimpanzé ou o subjugo de um leão é o mesmo ainda que os sujeitos de tal tratamento sejam substituídos por um cavalo, um cachorro, ou qualquer outro animal.
Por fim, o texto apresentado para votação atendia às solicitações que se referiam à extensão do prazo e à exclusão de atividades congêneres, ficando mantido o posicionamento em relação à abolição do uso de qualquer espécie animal, excetuando-se dessa apenas os animais humanos. No entanto, durante a votação, a negociação da exclusão dos animais domésticos voltou ao debate no Plenário 10 da Câmara dos Deputados. Aqueles que se opunham ao substitutivo declararam-se dispostos a aceitar todos os outros termos do PL desde que os animais domésticos fossem excluídos da proibição. Essa parecia ser uma proposta bastante tentadora, haja vista que era pouco certa a aprovação da matéria caso o embate caminhasse para a decisão pelo voto (que é o oposto da decisão por acordo). No intuito de exercer pressão, os parlamentares em oposição ao texto alertavam aos outros deputados sobre o risco de perderem na votação caso o acordo para a exclusão dos domésticos não fosse aceito. No entanto, para a sorte dos animais de todas as espécies, os parlamentares que discursavam em favor dos animais mantiveram-se sóbrios e firmes em sua posição, a qual foi totalmente condizente com a proposta da libertação animal.
São merecedores dos nossos agradecimentos os Deputados Federais:
- Affonso Camargo (PSDB-PR), que apesar de não fazer parte da Comissão de Educação e Cultura, esteve presente na votação e em muitos outros momentos da tramitação desse PL, discursando sobre o tema sem amarras e, hoje em especial, convidando aos outros parlamentares a fazerem um exame de consciência ao decidirem pela posição que tomariam;
- Alice Portugal (PCdoB-BA), que defendeu com uma energia ímpar aos interesses dos animais e da sociedade humana quando se posicionou diante dos outros parlamentares munida de argumentos firmes e repletos de informação;
- Antônio Carlos Biffi (PT-MS), relator do Substitutivo do PL em questão, desde o início da tramitação apresentou um excelente relatório que vinha de encontro aos interesses dos animais, mantendo-se coerente com o seu arrazoado até o final das negociações;
- Maria do Rosário (PT-RS), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, pela excelente condução dos trabalhos realizados pela Comissão por ela presidida;
- Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que apesar de não fazer parte da Comissão de Educação e Cultura, esteve presente na votação e fez uso da palavra para defender os interesses dos animais em circos, tendo sido a sua presença de essencial importância para a mediação das negociações.
Cidadãos comuns não têm direito à voz durante a votação, mas podem estar presentes em silêncio (com exceção de uma manifestação aqui e ali, devidamente advertida pela presidente da Mesa). Éramos cerca de 40 ativistas contra um número semelhante de circenses. Os ativistas posicionaram-se de maneira ordenada na penúltima fila (ou a primeira disponível para o público) exibindo faixas e cartazes, que foram momentaneamente ofuscados pela pilha de abaixo-assinados que foi colocada sobre a mesa que ocupávamos. As 100.000 assinaturas, colhidas por grupos espalhados por todo o país e cujo transporte foi confiado ao VEDDAS para ser protocolado na manhã de hoje, desfilou no dia anterior pelos gabinetes dos parlamentares em 50 quilos de papel. Outras folhas, trazidas por outros grupos e indivíduos, foram agregadas a essa pilha que, sendo exibida dentro do Plenário de votação com seus 70 centímetros de altura, declarava o posicionamento de 100.000 cidadãos contrários à presença de animais em circos.
O Deputado Ricardo Tripoli foi o segundo parlamentar a fazer o uso da palavra e foi ele quem trouxe a atenção dos outros parlamentares para a platéia de defensores dos direitos animais que se colocava às suas costas. Nesse momento, ele pediu a permissão da presidente da Comissão de Educação e Cultura para que o VEDDAS entregasse à Comissão os abaixo-assinados que portava em nome de outros grupos. O pedido foi aceito, mas não sem antes fazer o convite aos circenses para fazerem o mesmo, ao que eles responderam apresentando um tímido maço de abaixo-assinados com menos de cinquenta folhas. A presidente da Mesa recebeu das minhas mãos e posicionou devidamente ao lado da Mesa as 100.000 assinaturas que me foram confiadas, dando continuidade aos trabalhos. A todos os que assinaram esse abaixo-assinado, saibam que a apresentação das suas assinaturas pode ter feito toda a diferença na decisão dos parlamentares presentes.
As falas contrárias à proibição do uso de animais em circos frequentemente usavam de argumentos que excediam o limite do não-risível, atestando aos mais esclarecidos que o que ocorre na verdade é a escassez de argumentos plausíveis. Já as posições favoráveis à proibição do uso de animais em circos foram bastante consistentes e, surpreendentemente , foram focadas na questão animal. Digo que isso foi surpreendente porque há uma série de argumentos antropocêntricos (como as questões sanitárias e de segurança) disponíveis, mas os argumentos que colocam em foco o interesse dos animais em não serem sujeitados às condições inerentes à atividade circense tiveram a preferência dos parlamentares.
Encerradas as exposições por parte dos parlamentares, houve uma breve movimentação no sentido de negociações entre eles. Das alterações propostas, a única acatada pelo relator foi a de estender para oito anos o prazo para a destinação dos animais. Em seguida, a matéria foi colocada em votação e, sem deixar que a tensão se alongasse, o texto foi rapidamente aprovado por unanimidade, o que provocou uma comemoração espontânea entre os ativistas que ocupavam o Plenário.
Muitos grupos estiveram presentes no momento da votação. Além da presença do VEDDAS de São Paulo, destaco a presença da ADI de Londres, ANIDA do Rio de Janeiro, Coletivo Madu do Distrito Federal, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, ProAnima do Distrito Federal e WSPA, que se manifestaram em voz uníssona durante os trabalhos. Apesar de sabermos não ter sido sempre assim na trajetória desse tema, é certo que a atitude positiva em efeito hoje na Câmara dos Deputados também esteve em efeito nas últimas semanas entre grupos e indivíduos que atuam pelo mesmo objetivo no que se refere à abolição do uso de animais em circos e que não puderam estar presentes na data de hoje.
Conforme disse no início, ainda temos muito a trilhar, tanto na Câmara quanto no Senado, até que possamos concluir o capítulo que se refere aos animais mantidos em circos. Nesse sentido, peço aos grupos para que se mantenham alertas e ativos em sua mobilização. Pude constatar pessoalmente que os deputados registram e respondem às manifestações feitas por meio de mensagens eletrônicas, em especial as que são feitas em tom educado. Aos que têm acesso a Brasília, a visita aos gabinetes e outras formas de contato direto com os parlamentares são de extrema importância. Àqueles que não têm acesso fácil ao Planalto Central, mas que poderiam fazer um esforço maior para criar essa possibilidade, eu recomendo fortemente que o façam. Aos que estão impossibilitados de se fazerem presentes, escrevam de maneira educada aos deputados que farão parte da Comissão de Constituição e Justiça. Desde já, todos podem escrever aos deputados que votaram na Comissão de Educação e Cultura agradecendo pelo voto favorável ao Substitutivo do PL 7.291/2006, que proíbe o uso de animais em circos em todo o território nacional.
Oportunamente, dividi o voo de ida a Brasília com a Senadora Marina Silva, de quem me aproximei contando sobre o propósito da minha viagem e seguindo com uma consulta sobre o seu posicionamento em relação à questão dos animais em circos. Com muita prudência, ela me respondeu: “acredito que tenhamos uma posição bastante semelhante”.
Há muitos caminhos que, inexoravelmente, colocarão a exploração de animais não-humanos nos capítulos mais vergonhosos da história da nossa civilização. O caminho que faz uso dos processos legislativos é um deles e por isso devemos aprender a usá-lo. Nesse caminho, onde os parlamentares são os únicos a terem voz no momento da votação, não devemos nos esquecer de que somos nós que damos voz a eles. Para aqueles de nós que escolhemos fazer uso de nossa voz em favor de outrem, ainda que esse outrem não nos tenha elegido por meio de processos eleitorais, lembremo-nos de que somos nós a ponte entre eles e aqueles que têm o poder de legislar de forma que possa ser favorável à sua libertação.
Ofereço meus agradecimentos pessoais à Ana Nira, Marina Corbucci, Renata Martins e Sônia Fonseca, cujo apoio e orientação foram preciosos para a realização do trabalho no qual eu propus me engajar por esse breve período.
Acesse www.veddas.org.br/circos/fotos.htm e veja as fotos que ilustram os acontecimentos narrados nesse texto.